Em Busca do Meu Sonho: Combatendo o Racismo Estrutural no Brasil através da Educação

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Larissa Calixto, Coordenadora de Finanças, Ensina Brasil
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Há 50 anos, antes mesmo que eu nascesse, o meu futuro fora completamente transformado quando meus pais decidiram não aceitar o futuro de pobreza, exclusão social e discriminação racial reservado para os negros brasileiros descendentes de africanos escravizados.

Meu pai e minha mãe são de Minas Gerais, um dos estados brasileiros mais marcados pelos 400 anos de escravidão negra que sustentaram a fundação de toda a estrutura de sociedade que temos no Brasil hoje. Essa herança escravocrata está muito próxima a mim: meu bisavô nasceu e cresceu escravizado, mesmo décadas depois da “abolição da escravatura”—que só aconteceu de verdade nos livros de história. 

Lápis, caderno e sonhos—essas foram ferramentas que meus pais encontraram para lutar contra a marginalização imposta aos mais de 56% de negros no Brasil. Filhos de analfabetos, eles trabalharam duro e se tornaram os primeiros de suas famílias a terem acesso ao ensino superior: mecânico desde os 10 anos de idade, meu pai formou-se advogado; empregada doméstica desde os 12, minha mãe formou-se professora. 

Mesmo com esse esforço sobrenatural, a mobilidade social no Brasil é quase uma utopia. Com toda essa batalha dos meus pais, eu ainda assim nasci e cresci no bairro mais violento do Brasil nos anos 90… onde eu diria que quase todas as famílias sobreviviam (e seguem sobrevivendo) sem acesso ao básico: alimentação, saúde, transporte, lazer e educação. 

O acesso à educação que meus pais puderam oferecer para mim mudou a minha história, me deu a oportunidade de estudar na melhor universidade pública do Brasil, de fazer intercâmbio, de viajar pelo mundo e ter dignidade de escolha: pude escolher meus caminhos, meu futuro… pude ter liberdade para sonhar. 

 

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Desde que tomei consciência de que o racismo estruturante da sociedade brasileira—fruto da escravização forçada e extremamente violenta de milhares de cidadãos de países africanos há 521 anos atrás—é o principal pilar que segue negando a jovens negros o direito de sonhar, meu maior sonho têm sido permitir que cada vez mais negros brasileiros tenham essa oportunidade!

Uma das formas pelas quais tenho perseguido esse meu sonho é trabalhar no Ensina Brasil, gerando oportunidades para milhares de crianças negras por meio da educação! Trabalho aqui há 4 anos, e não poderia estar mais feliz: a educação transformou meu caminho, e todos os dias o produto do meu trabalho é gerar isso para outras crianças. 

 

 

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Gosto muito de discutir e aprender sobre diversidade e inclusão, estou sempre envolvida em atividades, workshops e aprendizados dentro dessa temática. E, no ano passado, fundei o grupo de afinidade racial do Ensina Brasil, chamado Pretas do Ensina. O Pretas é a associação de colaboradores do Ensina engajados na luta antirracista, cujo primeiro projeto foi o Desafio Antirracista 2020—uma série de ações voltadas à aprendizagem e desenvolvimento de ações antirracistas na prática, que engajou 95% do time em iniciativas como debates, aulas, consumo de cultura negra e letramento racial. A ideia para 2021 é expandir a atuação do Pretas, incluindo formações para os nossos professores e ampliando o impacto da nossa rede. 

 

Nossa visão aqui no Ensina Brasil é de que “Um dia, todas as crianças terão uma educação de qualidade.” Acrescento a essa visão o meu sonho individual: “Um dia, todos os negros brasileiros estarão livres das amarras do racismo estrutural para nutrir e realizar seus próprios sonhos.” O caminho é longo, o desafio é grande, e o que me alegra é que estamos juntos indo em direção a ele!